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Doutores da Amazônia: primeira-dama do Amapá lidera ação inédita de ONG em área Waiãpi

Foto: Eric Macias


No mesmo momento em que vem à tona ao mundo a tentativa de genocídio do povo Yanomami, em Roraima, com mais de 570 crianças mortas durante os últimos quatro anos, vítimas da ação de garimpos ilegais naquela região e inação do governo bolsonaro , no Amapá, a primeira-dama e odontóloga Priscilla Flores dá o ponta pé inicial no que pode ser a maior ação odontológica do Estado em áreas indígenas.


No sábado, 21, a primeira-dama publicou em suas redes sociais a chegada de uma equipe da ONG Doutores da Amazônia para uma ação inédita em território Waiãpi. “Me senti imensamente feliz e honrada em receber aqui em Macapá a equipe dos Doutores da Amazônia”, escreveu ela em post de rede social.


Priscilla Flores conta que no início de 2022 quando teve o primeiro contato com a ONG, que atua no atendimento voluntário de povos indígenas da Amazônia, logo se inscreveu como voluntária do projeto. “Concluí (no momento da inscrição) que o nosso estado merecia que os trouxéssemos pra cá. Tomei a iniciativa com as tratativas e conseguimos”, confessou.


Foto: Eric Macias


No fim de semana, a primeira-dama esteve na Reserva Waiãpi acompanhada da secretária de Saúde, Silvana Vedovelli e de uma equipe do DSEI Amapá – órgão ligado ao governo federal que trata sobre saúde indígena, para iniciar o planejamento da ação.


“Meu propósito é levar a odontologia que acredito a todos que necessitam, devolvendo não só a saúde, mas também, a função do sistema mastigatório, e porque não a autoestima e dignidade também, concordam?”, escreveu ela, lembrando ainda da “sorte” em ter como companheiro o governador Clécio Luís cuja trajetória política envolve a construção de políticas que “abracem a população, incluindo seus povos ancestrais, suas culturas e seus valores”, como escreveu.


ONG

Doutores da Amazônia é uma organização sem fins lucrativos criada por médicos odontólogos para atuar gratuitamente em áreas indígenas da Amazônia com serviços odontológicos especializados, com usos de tecnologias e equipamentos de ponta, sempre respeitando a cultura e os valores indígenas.


Foto: Divulgação


”Visamos liderar a assistência a populações em situação de vulnerabilidade, combatendo os efeitos da desigualdade, promovendo atendimento de qualidade, oferecido por profissionais de alta competência, proporcionando qualidade de vida e felicidade aos assistidos. Nossa atuação tem como fundação o profissionalismo, o comprometimento, a ética, o respeito à diversidade, a sensibilidade sócio-cultural e a promoção da inclusão e do desenvolvimento social. Acredito que nós, profissionais da saúde, temos não só o dever, mas a obrigação de ajudar pessoas que não têm acesso a um atendimento de saúde adequado, utilizando nossos conhecimentos práticos e teóricos sem pedir nada em troca a não ser a realização de estar ajudando a fazer um mundo melhor", explica no portal da ONG o médico Caio Machado, um dos sócios fundadores da organização.


Nação Waiãpi

Contatados pela primeira vez no início da década de 1970, durante a abertura da rodovia Perimetral Norte como parte do projeto da ditadura militar de “integração” da Amazônia, os Waiãpi sofreram um processo de quase genocídio. Na época, os indígenas da região do Amapari, no oeste do Amapá, chegaram a pouco mais de 80 indivíduos.


Foto: Rede de Cooperação Amazônica (RCA)


Grande parte do povo Waiãpi morreu vítima de garimpos ilegais, doenças e abandono do governo militar da época. Graças a uma ação da antropóloga da USP, Dominique Galois, numa intervenção de resgate cultural e humano desenvolvida através do departamento de antropologia a USP em parcerias com ONGs internacionais, hoje a Nação Waiãpi conta com mais de cinco mil indígenas e teve sua cultura imaterial reconhecida pela Unesco, órgão das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura, como Patrimônio Imaterial da Humanidade.


A história dos Waiãpi que habitam o Oeste do Amapá também passou pela tentativa de genocídio por um governo militar, instalado com o golpe de 1964, e qualquer semelhança com o momento grave em que passa a Nação Yanomami em pleno ano de 2023 não é mera coincidência. É fruto da inação do governo que durante os últimos quatro anos não moveu nada para a impedir a invasão de garimpeiros e milícias em área indígena, e com ela todas as consequências da ganância pelo ouro sobre um povo indefeso e debilitado.

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