"Ninguém solta a mão de ninguém"
O governador do Amapá, Clécio Luís, disse que o encontro de governadores com o Lula foi uma espécie de "unidade federativa" em torno da democracia
Por Fernando França
O presidente Lula e a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, lideraram uma caminhada nessa segunda-feira,9, com ministros, parlamentares e governadores - entre eles Clécio Luís -, até a sede do Supremo, destruída por terroristas em Brasília no último domingo, 8, com o objetivo de instabilizar a democracia e criar uma crise aguda social que resultasse em golpe militar.
Os dois subiram a rampa do Judiciário e entraram no prédio para ver de perto os estragos causados pelos golpistas. Para que a visita ocorresse, foi necessário criar um grande esquema de segurança. O cortejo até a sede do STF ocorreu logo após a reunião com governadores de todos os Estados.
Embora a caminhada tenha sido simbólica, mas ela representa um ato muito maior, uma ação forte em defesa da democracia e de resistência a uma tentativa de golpe com ações coordenadas de invasão às sedes dos três Poderes, pilares da democracia.
O encontro de governadores com Lula e Rosa Weber surgiu por iniciativa do governador do Pará, Elder Barbalho, coordenador do Fórum de Governadores da Amazônia, para fortalecer a democracia e o presidente Lula. O governador do Amapá, Clécio Luís estava no encontro e disse que a democracia e o povo brasileiro saem fortalecidos e que o encontro ecoa como "solidariedade federativa" (veja vídeo nesta matéria).
Governadores Clécio Luís (AP) e Helder Barbalho (PA) durante caminhada com Lula um dia após aos atos de terrorismo em Brasília
Por sua vez, essa unidade federativa dita por Clécio soa como uma ação de união que lembra o bordão “Ninguém solta a mão de ninguém”, que viralizou logo após a posse de Bolsonaro no comando central do País em 2019, dando início a um período de intimidações e ataques constantes às instituições democráticas. Só que agora, é no sentido de consolidar a democracia no País.
"GRITO DE PAVOR"
“Ninguém solta a mão de ninguém”, resurgiu com força e viralizou nas redes sociais em perfis de pessoa antibolsonaristas, fossem elas de esquerda ou não, em janeiro de 2019. O primeiro perfil a publica a frase, estampada em um desenho ilustrando um aperto de mãos, foi o da tatuadora mineira Thereza Nardelli que na época, questionada sobre a explosão de compartilhamentos de sua ilustração, explicou se tratar apenas de uma frase dita sempre por sua mãe como acolhimento e estímulos para momentos difíceis.
Post de Thereza Nardelli que viralizou em janeiro de 2019 e que uniu progressosta em defesa da democracia
O bordão ganhou o “mundo” e atravessou os quatro anos do golverno Bolsonaro,. Mas o que muitas pessoas não sabiam é que ele surgiu com ato de resistências de estudantes da USP (Universidade de São Paulo) nos anos de chumbo e mais sombrios da ditadura militar instalada no Brasil através do golpe de 1964.
Os estudantes foram um dos principais alvos do regime militar, muitos deles desapareceram nos porões da ditadura.
Naquele período, estudantes dos cursos de ciências sociais da USP protestavam dentro da Universidade contra a ditadura. Como reação aos estudantes, agentes do regime militar cercavam a Universidade e cortavam a energia a noite com ameaças de invadir o local. Era quando os estudantes se davam as mãos em grupo e entoavam o que chamavam de “grito de pavor”: Ninguém solta a mão de ninguém.
O que se tira dessa caminhada de Lula, governadores, parlamentares, ministros do STF, é que a unidade dos poderes e de progressistas em torno da democracia é tão importante hoje como foi durante o regime militar para aqueles estudantes que se uniam de mãos dadas para defender a própria e a democracia brasileira.
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